

escândalo do rombo na Câmara Municipal que ultrapassa os R$ 2,3 milhões foi tornado público no último dia 1º de fevereiro. Fato que causou a indignação dos ponta-grossenses diante do descuido com o dinheiro dos contribuintes e aumentou a desconfiança com a classe política. Porém, quatro meses depois, o ex-servidor que confessou ter praticado a fraude, Rodrigo de Paula Pires, continua em liberdade, levando uma vida normal na cidade catarinense de Itajaí, onde tem uma empresa de importação e exportação.
Até o momento, ele não revelou o destino do dinheiro, e a investigação do Ministério Público, da Polícia Civil e da CPI do Rombo encontram sérias dificuldades para solucionar o caso. Além de não devolver nenhum centavo do que desviou, na semana passada os advogados de Rodrigo entraram com um pedido de liberação junto ao MP dos dois carros que estão sob a custódia da Justiça, para fim de ressarcimento ao Município: um Peugeot 307, avaliado em R$ 50 mil, e um Toyota Camry, de R$ 100 mil.
A alegação dos advogados é de que os dois veículos estão há mais de 60 dias apreendidos, e o inquérito policial acerca do caso ainda não foi concluído. Assim, haveria um amparo na legislação para a retomada dos bens de Rodrigo, que passa de acusado a favorecido pela Justiça. O promotor do MP, Roberto Ouriques, negou o pedido. Conforme ele, os bens no foram sequestrados no último dia 8 de maio, e que antes disso os veículos estavam em poder da Justiça através de um outro procedimento, de busca de apreensão. Inconformado com a tentativa de Rodrigo de recuperar os bens, Ouriques compreende que ele agiu com "desfaçatez" e "petulância".
O pedido negado pelo promotor seguiu para análise do juiz da 2ª Vara Criminal do Fórum de Ponta Grossa, André Schafranski. Até sexta-feira, segundo ele, a petição não havia chegado a seu gabinete. Por isso disse não poderia antecipar a decisão sem conhecer as alegações. O parecer será dado nesta semana.
De acordo com Ouriques, foi o hábeas corpus concedido pela Justiça na ocasião em que Rodrigo foi preso, quando passou somente alguns dias na cadeia, que permite ele de estar em Itajaí. Foi declarado que o ex-servidor possui duas residências, e pode transitar entre as duas, desde que comunique a Polícia Civil.
Além dos veículos, a residência e um terreno de propriedade de Rodrigo Pires também estão sequestrados. A casa tem um valor estimado em R$ 600 mil, enquanto o terreno pode valer até R$ 80 mil. Ambos estão localizados em região nobre da cidade, na Vila Estrela. O pai de Rodrigo, Noel Pires, assumiu o compromisso com o MP de devolver R$ 100 mil que recebeu do filho. Mas isso ainda não aconteceu. O promotor informou que o advogado fez uma proposta de pagar a quantia através de bens, como veículos. Porém, o Município precisa aceitar essa forma de pagamento para que seja autorizada.
Principais episódios nos quatro meses
31 de janeiro
O presidente da Câmara Municipal, Sebastião Mainardes Junior (DEM), revela à imprensa que a Casa tinha sido roubada, embora sem divulgar o nome de Rodrigo de Paula Pires, e sem ter a informação precisa do valor desviado, que soma R$ 2.367.468,37.
12 de fevereiro
Ministério Público ouve o depoimento de Rodrigo de Paula Pires, que confessa ter desviado dinheiro da Câmara, sem a participação de outras pessoas. Na sequência, testemunhas e suspeitos de terem envolvimento foram interrogados pelo promotor Roberto Ouriques.
7 de março
A Polícia Civil prende Rodrigo de Paula Pires quando ele tentava deixar a cidade sem dar explicações. No dia 12 de março o ex-servidor prestou depoimento à CPI do Rombo, na primeira vez que apareceu em público. Ele disse que desviava porque era fácil. No dia seguinte a Justiça concede hábeas corpus para Rodrigo deixar a prisão.
31 de março
Rodrigo retorna à cidade, depois de ser autorizado pela Justiça a residir em Itajaí, para uma acareação na CPI do Rombo com seu ex-chefe, Gilberto Ferreira. Ele reafirmou que agiu sozinho porque encontrou facilidade. Foi a última vez que ele foi visto em público em Ponta Grossa. Um mês depois ele ainda não foi indiciado.
Inquéritos estão parados à espera dos cheques
O inquérito civil e o criminal que vão indiciar Rodrigo de Paula Pires e outros envolvidos de forma direta ou indireta no rombo da Câmara estão parados. De acordo com o promotor Roberto Ouriques, a falta de resposta do Banco Bradesco para a liberação da cópia dos cheques com que o ex-servidor movimentava o dinheiro roubado impedem o avanço dos trabalhos. Tais cheques são considerados essenciais porque podem mostrar se houveram outros beneficiários da fraude. Rodrigo afirmou diversas vezes que agiu sozinho, mas ainda não está descartada a participação de outras pessoas, embora não existam provas até o momento.
O promotor compreende que a situação é complicada, porque é obrigação do MP e da Justiça darem uma resposta rápida à sociedade em um caso como este. Porém, Ouriques frisa que é preciso ter condições para concluir as investigações, o que ainda não é possível, mesmo quatro meses depois do escândalo 'estourar'. "Já tentamos de todas as formas conseguir a cópia dos cheques, mas ainda não teve uma resposta positiva do Banco. Devemos solicitar ao juiz que estabeleça um prazo para o atendimento da solicitação", explica, lembrando que o pedido foi feito há quase dois meses.
Em relação à Ação Criminal, a Polícia Civil e a promotoria terão que entregar até o dia 8 de julho, quando completa dois meses do sequestro dos bens. Já a Ação Civil Pública pode levar mais tempo ainda. Nela, devem constar os nomes de Rodrigo e outras seis pessoas, provavelmente dos três ex-presidentes do período em que o rombo aconteceu, Delmar Pimentel, Elieli Polini e Valfredo Laco Dzázio, também do ex-diretor financeiro, Gilberto Ferreira, do auditor, Flávio Yotoko, do ex-diretor-geral, José Luiz Soares. Caberá à Justiça julgar cada caso.
CPI encerra trabalhos até o final de junho
No âmbito da Câmara Municipal, a CPI que investiga o rombo deve concluir os trabalhos até o final de junho, conforme afirmou o presidente da comissão, Alysson Zampieri (PPS). Segundo ele, está programado para a próxima quinta-feira, a partir das 16 horas, os dois últimos depoimentos, quando os membros da CPI devem ouvir Handrielly Pires, esposa de Rodrigo de Paula Pires, e o ex-auditor da Câmara, Carlos Lopatiuk. De Handrielly, Alysson espera ter esclarecimentos acerca das declarações dadas à imprensa de que outras pessoas também são responsáveis pelo rombo. Lopatiuk será questionado sobre o concurso público que admitiu Flávio Yotoko para a Auditoria da Casa.
O presidente da CPI prefere não adiantar qual será o teor do relatório final da comissão, que vai ser encaminhado ao MP. Porém, segundo ele, além das considerações do relator, vereador Maurício Silva (PSB), ele deve pedir a cassação de um parlamentar à Corregedoria da Câmara. Ele não quis citar o nome, mas por exclusão, deve ser o ex-presidente Valfredo Laco Dzázio (PRP), já que é o único dos ex-presidentes que continua com mandato. Delmar Pimentel e Eliel Polini podem ter o pedido pela perda dos direitos políticos, fato que, se concretizado e julgado procedente pelo MP e pela Justiça, impediria que disputem eleições pelo prazo de cinco anos.
Alysson comentou também sobre o pedido feito pelo advogado de Rodrigo para a liberação dos bens. Conforme ele, se o juiz acatar a solicitação estará dando um atestado de que o ex-servidor pode sair impune pela Justiça. O presidente da CPI entende que o promotor precisa pressionar o juiz para que tome uma atitude a respeito da demora do Bradesco para fornecer a cópia dos cheques, para que as investigações possam ser encerradas.
FONTE: Jornal da Manhã (Eduardo Farias)